sábado, 16 de setembro de 2006

Quintana de Bolso

Dizem que você nunca estará só se tiver um poeta em seu bolso. Quintana de bolso cumpre muito bem essa função, com uma bela coletânea de poemas cheios de ternura pela vida, escritos por um poeta despreocupado com a crítica, que fazia poesia somente porque sentia necessidade. Descrito uma vez por Erico Veríssimo como um anjo disfarçado de homem (que às vezes, quando se descuidava ao vestir o casaco, suas asas ficavam de fora) Mario Quintana, Poeta das coisas simples, tem uma maneira de pintar com palavras, o cenário do mundo e seus pequenos detalhes esquecidos, nos trazendo a sensação de que na verdade não estamos lendo poemas de outro, mas sim recordando os nossos próprios poemas que ainda não escrevemos. Tornando verdade o que ele disse sobre idéias:

"Qualquer idéia que te agrade

Por isso mesmo... é tua.

O autor nada mais fez que vestir a verdade

Que dentro em ti se achava inteiramente nua...".


O melhor que temos a fazer é ouvir o convite à viagem, ao mundo da poesia, feita por esse grande homem que nos deixou em viagem a poucos anos.





Invitation au Voyage:
"Se cada um de vós, vós outros da televisão
Vós que viajais inertes
Como defuntos num caixão
Se cada um de vós abrisse um livro de poemas...
Faria uma verdadeira viagem...
Num livro de poemas se descobre de tudo, de tudo
[mesmo!

inclusive o amor e outras novidades."

Rua dos cataventos XVII:
Quando eu morrer e no frescor de lua
Da casa nova me quedar a sós,
Deixai-me em paz na minha quieta rua...
Nada mais quero com nenhum de vós!
Quero ficar com alguns poemas tortos
que andei tentando endireitar em vão...
que lindo a eternidade, amigos mortos,
para as torturas lentas da Expressão!...
Eu levarei comigo as madrugadas,
Pôr de sóis, algum lugar, asas em bando,
mais o rir das primeiras namoradas...
E um dia a morte há de fitar com espanto
Os fios de vida que eu urdi, cantando,
Na orla negra de seu manto...

Da felicidade:
Quantas vezes agente em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura,
Tendo-os na ponta do nariz!"