A criatura em questão, não sabia mais o que estava fazendo. Nem se reconhecia mais ao olhar no espelho. Ao invés de sua figura alta e escanifrada (ultimamente teve dificuldades em conquistar suas refeições), via um frango assado, quando muito, em suas fases mais confiantes, um filé mignon.
Suas visitas ao restaurante tinham razões aparentemente cleptomaníacas. O garçom, ao levar o seu pedido, encontrava uma mesa limpa de seus talheres, temperos e do cliente em si. Às vezes nem a toalha quadriculada escapava. Na verdade só tinha interesse pelos temperos, mas pra não acharem que era um louco, preferia levar fama de ladrão.
Essa estranha mania começou tão automaticamente quanto seu monótono trabalho de escriturário de repartição pública. Um belo dia (sempre acontece mudanças em dias belos) a secretária do chefe, ao lhe entregar o “fardo” rotineiro de papelada, baixou a guarda, tomando um belo beliscão na abundante bunda. Do beliscão foi pra mordidinha na orelha, da orelha pro pescoço, e do pescoço pra consumação total.
Uma coleção de potes de temperos vazios se acumulava sobre sua mesa enquanto o número de funcionários da repartição diminuía gradativamente. Quando o trabalho dos sumidos se acumulou pra ele, foi que decidiu se entregar à justiça.
Condenado à pena de morte teve apenas uma exigência: a presença de seu advogado em sua última refeição.
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