terça-feira, 1 de maio de 2007

Pro seu Governo


Essa expressão sempre me fez rir. Na verdade só comecei a rir dela depois de ler Papillon, livro autobiográfico de Henri Charrière. Se você acha que o governo é muito duro e judia dos coitados dos cidadãos, você seria levado as lágrimas ao saber pelo que passam os presidiários dessa historia para agüentar o governo, algo que eles chamariam, com razão, um mal necessário.

Trata se da história de um homem injustamente condenado a uma prisão perpétua, pelo suposto assassinato de sua esposa. Ele passa a planejar e fugir diversas vezes de todas as prisões que o colocam. Mas durante todo esse tempo ele tem que agüentar o “governo”, um tubo metálico projetado com o propósito de guardar seu dinheiro para negociações na cadeia e para as fugas.

Se você ainda não percebeu a razão do formato cilíndrico do “petit portefeille”, vá pra cadeia e tente guardar teu dinheiro no bolso. Meu amigo, a única saída pra você é o teu bolso intracutâneo embutido. E lá vai o governo.

Não poderiam batizar a coisa com nome mais apropriado. Basta lembrar a primeira coisa, palavrão, ou melhor, a primeira expressão que sai de sua boca quando está falando do governo: “ah, porque o governo só... a gente”; “esse governo é um baita... no...”. Enfim, são essas expressões que nos auxiliam, mesmo sem ter lido o livro, a entender o Herói em questão. Pobre Papillon, às vezes tinha que suportar, junto com o seu, o governo do amigo (mais rico e, portanto, mais importunado pelo governo) que tinha atritos que, digamos, não o permitiam manter o “regime político”. Se um governo já é difícil de suportar, imaginem dois enfiados no mesmo sistema (seja ele político ou digestivo).


“... _Comé que é? O cigarro é quanto? Pêra que vou lá ver se o governo pode ajudar.

_ Essa inflação que o governo ta causando é insuportável...”


Nunca gostei muito do governo. Ainda mais depois de saber o que ele fez o coitadinho do Papillon passar. Espero nunca depender dele pra nada.


As eleições nunca mais serão as mesmas:

Entrevistas:

P: Se você for eleito, como será o seu governo nesses próximos quatro anos?

P: No seu governo, você pretende gerar empregos ou fará um trabalho de retenção?

P: Quais medidas o governo deveria tomar para favorecer as classes mais pobres?


A única vantagem dessa história é um amplo leque de oportunidades para trocadilhos:

_ Minha filha, só o governo pode garantir a tua aposentadoria.

_ Esse tem as costas quentes - ligação com o governo.

_ Essa burocracia no governo atrapalha tudo, acaba tornando ele inalcançável.


E o meu preferido:

_ Para o seu governo...

segunda-feira, 19 de março de 2007

Hamlet Shakespeare (sessão da tarde Elizabetana)

Nessa tarde vai rolar mais confusão entre o céu e a terra do que a sua vã filosofia pode imaginar! Hamlet, o queridinho príncipe da Dinamarca, recebe a surpreendente visita do fantasma de seu pai e acaba descobrindo que o seu invejoso tio foi quem botou uma gota de veneno em seu ouvido. Pra piorar, ainda tem que agüentar a barra de ver sua mãe, viúva de apenas dois meses, casar com o tio assassino que é um tremendo baixo astral. Enquanto decide ser ou não ser um vingador, esse malandrinho vai armar as mais loucas confusões e virar a vida de seu padrasto em um verdadeiro pesadelo. Ele e seu amigo Horácio vão formar uma dupla da pesada, arrumando mil confusões, e botar a cidade de cabeça pra baixo. Vai sobrar veneno pra tudo mundo quando ele descobrir que Ofélia, a menina dos seus olhos, pirou na batatinha e se jogou no rio. Vai ser um Deus nos acuda quando tudo ficar podre no reino da Dinamarca!



"Primeriro coveiro: Olha, vê aqui esse crânio? - tava enterrado aí há vinte e três anos.

Hamlet: de quem era?

Primeriro coveiro: um maluco filho da puta, esse aí. o senhor pensa que é de quem?

hamlet: sei lá - não sei.

Primeriro coveiro: que a peste nunca abandone esse palhaço louco! uma vêz derrubou em minha cabeça um garrafão inteiro de vinho do Reno. Esse crânio aí, cavalheiro, foi o crânio de Yorick, o bobo do rei.

hamlet: este aqui?

Primeriro coveiro: esse aí.

hamlet: deixa eu ver. (pega o cranio.) Olá, pobre Yorick! Eu o conheci, Horácio. um rapaz de infinita graça, de espantosa fantasia. Mil vezes me carregou nas costas; e agora, me causa horror só de lembrar! Me revolta o estômago! Daqui pendiam os lábios que eu beijei não sei quantas vezes. Yorick, onde andam agora as tuas piadas? Tuas cambalhotas? tuas cantigas? teus lampejos de alegria que faziam a mesa explodir em gargalhadas? Nem uma gracinha mais, zombando da tua própria dentadura? que falta de espírito! Olha, vai até o quarto da minha grande dama e diz a ela que, mesmo que se pinte com dois dedos de espessura, este é o resultado final; vê se ela ri disso!"

Hamlet -Shakespeare (Chaves)

Muitas das obras de Shakespeare tem como plot a loucura e a paixão excessiva, que impulsionam ações exageradas, muitas vezes encontrando um fim na morte dos protagonistas, geralmente por envenenamento. Mas Hamlet, no aspecto da loucura e precipitação, vence todos os outros e pode ser classificado como o perfeito pesadelo, de um caso de terapia familiar, de qualquer psicanalista. Hamlet, o príncipe da Dinamarca, descobre, através de uma visita do fantasma de seu pai, que seu tio o teria matado, com uma gota de veneno no ouvido, a fim de tomar seu trono e sua esposa. Enfurecido Hamlet prepara uma vingança, mas se atormenta, quase à loucura, com a idéia de pagar com a mesma moeda tão terrível crime. Num estado de confusão, acaba tirando a vida do pai de sua amada Ofélia. Esta, por sua vez, também enlouquece atirando se nas profundezas das águas. O final trágico nos ensina que Chaves estava certo quando disse: a vingança nunca é plena, mata a alma e envenena.





"Hamlet:... todos os acontecimentos parecem me acusar, me impelindo à vingança que retardo! o que é um homem cujo melhor uso e melhor aproveitamento do seu tempo é comer e dormir? apenas um animal. é evidente que esse que nos criou com tanto entendimento, capazes de olhar o passado e conceber o futuro, nao nos deu essa capacidade e essa razão divina para mofar em nós, sem uso. ora, a nao ser por esquecimento animal, ou por indecisao pusilânime, nascida de pensar com excessiva precisao nas consequencias - uma meditaçao que, dividida em quatro, daria apenas uma parte de sabedoria e três de covardia - eu nao sei por que ainda repito: - "isso deve ser feito", se tenho razao, e vontade, e força e meios pra fazê-lo. exemplos grandes quanto a terra me incitam; testemunha é este exército, tao numeroso tao custoso, guiado por um principe sereno dedicado, cujo espírito, inflado por divina ambiçao, é indiferente ao acaso invisível, e expõe o que é mortal e precário a tudo que a fortuna, a morte e o perigo engendram, só por uma casca de ovo. se verdadeiramente grande é nao se agitar sem uma causa maior, mas encontrar motivo de contenda numa palha quando a honra está em jogo. como é que eu fico, entao, eu que com um pai assassinado e uma mae conspurcada, excitaçoes de meu sangue e da minha razao, deixo tudo dormir? e, pra minha vergonha, vejo a morte iminente de vinte mil homens que, por um capricho, uma ilusao de gloria, caminham para a cova como quem vai pro leito, combatendo por um terreno no qual nao há espaço para lutarem todos; nem dá tumba suficiente para esconder os mortos? oh, que de agora em diante meus pensamentos sejam só sangrentos; ou nao sejam nada!"

Notas do Subsolo - Dostoievski

Detestável, sujo, imundo. Um cão! Um verme. São palavras fortes a se dizer de alguém, e ainda piores se falam de si mesmo. Assim é o protagonista em "Notas do subsolo e outros contos": um homem medíocre, em um cenário deprimente, que decide no fim da vida confessar seus desgostos e rancores guardados há anos no subsolo de sua consciência. Esse homem vil encontra seus prazeres em dominar e humilhar qualquer um que puder desmoralizar. Infeliz, se obriga a transformar sofrimentos em prazeres. Enfim, alguém perfeitamente normal, como nós, que acaba descobrindo estar completamente desacostumado com a vida, ainda não sabendo a razão de sua existencia, e se irrita com ela. O próprio Dostoievski declarou que "para escrever bem, é preciso sofrer e sofrer". Mas sofrer muitas vezes é sinônimo de viver. Talvez seja por essa razão que encontramos nessa obra uma sinceridade assustadora ao revelar os sentimentos mesquinhos que guardamos nos porões e subsolos de nossa mente. Infelizmente algumas dessas notas também nos pertençam.

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"...quanto mais o bem e todas as coisas "belas e sublimes" se tornavam claras à minha consciência, mais profundamente eu me afundava na minha lama, mais eu me sentia capaz de me enterrar definitivamente. Porém, o que era particularmente notável é que esse desacordo não parecia uma coisa fortuita, dependendo das circunstâncias, mas parecia vir por si e se produzir muito naturalmente. Dir-se-ia que era meu estado normal e de modo nenhum uma doença ou um vício; a tal ponto que, finalmente, perdi todo o desejo de lutar. Enfim, para concluir, admito quase (talvez o admita completamente) que tal era com efeito o estado normal do meu espírito. Mas, antes, no começo, quantos sofrimentos suportei pacientemente nessa luta! Não acreditava que outros pudessem estar no mesmo caso, e durante toda a minha vida escondi essa particularidade como um segredo. Eu tinha vergonha (pode ser que tenha vergonha ainda hoje)."

quinta-feira, 1 de março de 2007

COMUNIDADE: JÁ FIQUEI, SÓ DE CUECAS ,PRESO NUMA GRADE

Lembram daquele cara que tentou roubar uma casa e quando foi sair, ficou preso na grade da janela? Apareceu na tevê, os policiais algemando ele, depois serrando as grades enquanto ele só olhava com aquela cara de “que idéia idiota que eu tive”. O que nunca entendi foi porque ele tava só de cueca. Que tipo de gente vai assaltar uma casa só de cuecas? (Se você responder “alguém que só tem cuecas” te arrebento).

Tá bom, eu sei, não deve ter um código de conduta ao cometer crimes, mas o que quero dizer é: pô!? Cuecas!?

Na minha opinião, ele tinha tudo planejado, afinal ninguém pode ser tão idiota a ponto de tentar passar por uma grade feita pra ninguém conseguir passar. Ficou de cuecas só pra aparecer na televisão e dizer pros amigos que tava traçando a dona da casa.

É... mas nesse caso a cara de “que cagada!” não seria facilmente explicada.

Talvez ele tenha calculado mal a dose de pó de pirim pim pim, acabando o efeito justo na hora de passar pela grade, fazendo ele voltar a forma normal e ficar preso. E a cueca? Bem, a capa de invisibilidade dele teria caído também, ou seu colega Harry fugiu com ela. Ou quem tenha usado pó de pirim pim pim demais tenha sido eu.

Acho que isso tudo é irrelevante dado às circunstâncias agravantes pós-assalto-de-cuecas filmado e transmitido em rede nacional (sorte que não tinha youtube naquela época). Depois desse assalto a vida desse cara desmoronou. Ninguém levava ele a sério.

- Passa a grana, isso é um assalto!

- Ai que susto cara! Quase não te reconheci de roupa.

- Cala a boca e passa a carteira!

- A carteira até que passa, mas você é bem capaz que não (risadas frenéticas).

E assim por diante, só se agravava. Sem dinheiro pra comer foi obrigado a vender suas roupas. Com isso, foi reconhecido e zoado ainda mais facilmente.

Com passado criminoso, ficha sujíssima, inaptidão total para qualquer trabalho, e pouquíssima leitura, só lhe restava virar pastor. Mas por pior que fosse sua situação, ainda tinha princípios e preferiu ser vagabundo mesmo, assim poderia contribuir mais com a sociedade.

Não é que o destino e sua “fotogêniquisse” o trouxeram novamente diante das câmeras! Lá estava ele, cantando para nosso repórter: “iê iê iê iê, u cão foi qui botô pá nóis bebê”. Jeremias estava voltando com tudo. Agora está se candidatando a deputado com a promessa da reforma política no número de contingente da câmara: “se eu pudé mato mais di míu, queu sô caba hómi!”. E com youtube e afins, todos apoiando ele, tem grandes chances de ganhar.

Pois é meu amigo, nessa geração de sanduíche-iche, e sapoinhôooooo, quem bolar a coisa mais idiota possível é rei. Eu fiz minha parte escrevendo isso, e você a sua lendo. Sorte que não estamos na internet. Ou estamos? Se estamos já era.