quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Lei da síntase

ou,

tudo se resume a...


Falha estátua da lei

Fal ...a ......tua .....lei.

F .l ...a ......tu .......lei.

Da Experiência


Voz de anjo,

Sorriso de anjo,

Pele de anjo,

Ah, se nunca antes tivesse sido tentado,

Nem de leve desconfiaria

Que és um diabo disfarçado.

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Trapo - Cristóvão Tezza

Caro ouvinte, ouvante, ouvário. É triste ter que te informar a morte do maior poeta desconhecido de Curitiba: Trapo, o marginal drogado, o romântico grosseiro, o amante e assassino da poesia. Tanto tentou matá-la que acabou morto por ela. Ta lá, no chão de um pensionato sujo, todo ensangüentado. O desgraçado tinha que ser tão dramático e dar um tiro na cara?! Pensando bem, em se tratando do Trapo, não foi tão dramático assim. Sei lá se foi ele mesmo que deu o tiro. Talvez tenha sido sua infância odiosa, o desprezo de seu pai, ou seu impossível amor por Rosana. Será que não tava tentando passar um recado? Tipo, ele sendo um poeta... querendo matar a poesia... se matando... Nah! Não era nenhum idiota caprichoso pra dar um recado tão podre assim. Dizem que tem alguma coisa a ver com os gregos. Quem disse isso? Um tal de Cristóvão Tezza. Ah! e o professor Manuel também. Esse eu boto a mão no fogo que matou a charada. E eu que não dava nada pra ele. Mas sei lá, não interessa como morreu né? Só sei que enquanto tava vivo, ele era muito foda.




"Mas deixa eu explicar. É que houve alguns filhos da puta no passado (não muito longínquo) que por meio de artes do demônio e da magia negra, lançando mão do espiritismo e da metempsicose às avessas, houve uns desgraçados, uns desonestos, uns ladrões, uns larápios, uma súcia de escroques que, por não terem imaginação própria, por não disporem da mínima intuição criadora (e nenhum lastro de honestidade intelectual, evidente), rascunharam, escreveram, datilografaram e publicaram TODOS OS POEMAS que por direito imanente, impostergável, genético, soberano, absoluto, ME PERTENCIAM – poemas tão meus quanto a piroca que trago pendurado entre as pernas. Ou seja: não há engano possível. E, o que é pior – e insolúvel, esses canalhas viveram muito antes que eu tivesse nascido, de modo que não me restou nenhum recurso, legal ou não, para reaver o que legitimamente me pertence. Sou a vitima de um crime perfeito."

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Vidas Secas

Em uma planície avermelhada e rachada, onde só o azul irritante do céu domina autoritário, negando a presença de qualquer nuvem de esperança, as únicas sombras que se formam são cinco silhuetas tortas. Elas pertencem a Fabiano, o rústico chefe da família, sinhá Vitória, sua esposa, e os dois meninos, seguindo logo atrás deles a fiel cachorra baleia. Essa família de retirantes em busca de sobrevivência, é vítima da terrível crueldade poética do autor Graciliano Ramos, que nessa obra se supera. Durante essa expressão da miséria humana ele não concedendo nenhuma piedade aos personagens, transformando-os numa extensão do cenário, e outras vezes, confundindo-os com animais. Aliás, a personagem com maior humanidade parece ser a cachorra, tendo um capítulo inteiro dedicado a ela, a única que recebe a simpatia do autor e é sacrificada, cortada de seu sofrimento. Fabiano e sua família seguem com suas Vidas Secas, sendo atormentados, mais que pelo calor, pela falta de esperança que faz evaporar seus sonhos.




"Pisou com firmeza no chão gretado, puxou a faca de ponta, esgaravatou as unhas sujas. Tirou do aió um pedaço de fumo, picou-o, fez um cigarro de palha de milho, acendeu-o ao binga, pôs-se a fumar regalado. _Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta. Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia, cuidava de animais alheios, descobria-se, encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra. Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando: _Você é um bicho, Fabiano. Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz de vencer dificuldades. Chegara naquela situação medonha - e ali estava, forte, até gordo, fumando o seu cigarro de palha. _Um bicho, Fabiano."

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

A morte e a morte de Quincas Berro D'água

Em um velório aparecem três bêbados... Pronto. É material perfeito para uma piada! Ou para um livro. É o que Jorge amado faz em “A morte e a morte de Quincas Berro d’água”. Nesse livro encontramos o personagem mais “vivo” (em termos) e malandro possível. Conta a história que Quincas era um pai de família respeitado com um trabalho estável e... em outras palavras: a vida era um saco. Decidiu há algum tempo largar tudo e todos que estavam atravancando seu caminho e virar passarinho, aliás, passarinho não, que passarinho não bebe alguns tipos de água, não é mesmo? Um dia bateu as botas, duas vezes! A primeira de uma forma tranqüila em seu quarto, a segunda afogado no mar, após ter saído de seu caixão e, surpreendentemente, passeado com os companheiros de cachaça pelas ruas de Salvador. De qualquer forma foi uma grande perda para nós. Aliás, o que seria de nós sem esses poetas, cantores e palhaços em transe? Com certeza o mundo perderia parte de seu brilho, se bem que também perderia parte do cheiro, mas deixa isso pra lá. Ei, já te contei aquela do bêbado e a freira?...





"Negro Pastinha virava um trago, enxugava uma lagrima, urrava em desespero: - morreu o pai da gente.../ - ...pai da gente...- gemiam os outros. Circulava a garrafa consoladora, cresciam lágrimas nos olhos do negro, crescia seu agudo sofrer: - Morreu o homem bom.../ - ...homem bom.../ De quando em quando, um novo elemento incorporava-se à roda, por vezes sem saber do que se tratava. Negro Pastinha estendia-lhe a garrafa, soltava seu grito de apunhalado: - Ele era bom.../ - ...era bom... – repetiam os demais, menos o novato, á espera de uma explicação para os tristes lamentos e a cachaça grátis. – Fala também, desgraçado...- Negro Pastinha, sem se levantar, espichava o poderoso braço, sacudia o recém-chegado, um brilho nos olhos. – Ou tu acha que ele era ruim? Alguém se apressava a explicar, antes que as coisas se tornassem malparadas. – Foi Quincas Berro Dágua que morreu. – Quincas?...era bom..._dizia o novo membro do coro, convicto e aterrorizado. – Outra garrafa! – reclamava, entre soluços, Negro Pastinha."

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Trablhos de Amor Perdidos - Shakespeare

Quem nunca teve uma desilusão amorosa? Que o tenha feito querer desistir de uma vez dessa besteira de amor, de todos esses “trabalhos de amor perdidos”? Esse é o título da peça de Shakespeare, na qual um rei e três de seus nobres fazem votos de se dedicarem, durante três anos, somente aos estudos, negando-se também aos prazeres e futilidades. A chegada de uma princesa com suas cortesãs e, junto com elas, aquele inconveniente menino arqueiro e míope, força os quatro amigos a trocarem esses votos por um melhor. Eles são instigados pelo rei e seu grito de guerra: “Por São Cupido! Soldados, à batalha!”. Começam então o trabalho da conquista. Um acontecimento trágico acaba por separá-los, tornando seus trabalhos de amor perdidos. Mas a única perda real no amor é quando por medo, ou timidez, ele nunca acontece. É o que defende Byron (o nobre mais a favor de quebrar os votos), quando fala dos que ficam só na teoria: “Os padrinhos terrestres da luz pura, que aos astros sabem dar nomes em messe, não tem nas belas noites mais ventura, do que o pastor que a todos desconhece”.



"BIRON – Quando jurastes estudar, senhores, abjurastes do livro verdadeiro. (...). Milorde, e vós, e vós, como é possível investigar a fundo a alta excelência dos estudos, privados sempre e sempre da beleza de um rosto de mulher? (...) Ora, quando jurastes não ver rosto de mulher, abjurastes simplesmente do uso dos olhos, sim, do estudo, objeto de vosso juramento. Existe, acaso, no mundo algum autor que, como os olhos da mulher nos ensine o que é a beleza? O saber é tão-só o complemento de nós próprios, que se acha onde estivermos. Quando nos belos olhos de uma jovem nos miramos, não vemos, por acaso, também nosso saber? Fizemos voto, milordes, de estudar, mas repudiamos com o juramento os verdadeiros livros. (...) Dos olhos da mulher eu deduzo isto: São eles que irradiam a fagulha viva de Prometeu; as artes todas e os livros eles são, a academia que abrange, explica e nutre o mundo inteiro. Sem eles nada pode haver perfeito."

terça-feira, 10 de outubro de 2006

língua do "p"

para Wendy


Não é amigo nem cupido,

Filo, Eros ou Platão.

Classe, gênero desconhecido,

Estranho amor de nossa união.

Sou menino na terra do nunca, sobrevoando,

Te buscando.

Estatua formosa, os pés na terra, coração no mar.

Presente roubado, gnomo guardado em teus sonhos passeando,

Volta e meia convidando:

“doce menina esquecida vem comigo voar”.

Tomaremos sorvete nas nuvens

Norte ou sul? Não importa em qual polar.

“tens que ir embora logo”.

(teu fantasma vem chegando)

Purificar águas turvas com fogo

Até quando vais tentar?

Menina louca, pés na terra!

Ou coração no mar.

sábado, 16 de setembro de 2006

Quintana de Bolso

Dizem que você nunca estará só se tiver um poeta em seu bolso. Quintana de bolso cumpre muito bem essa função, com uma bela coletânea de poemas cheios de ternura pela vida, escritos por um poeta despreocupado com a crítica, que fazia poesia somente porque sentia necessidade. Descrito uma vez por Erico Veríssimo como um anjo disfarçado de homem (que às vezes, quando se descuidava ao vestir o casaco, suas asas ficavam de fora) Mario Quintana, Poeta das coisas simples, tem uma maneira de pintar com palavras, o cenário do mundo e seus pequenos detalhes esquecidos, nos trazendo a sensação de que na verdade não estamos lendo poemas de outro, mas sim recordando os nossos próprios poemas que ainda não escrevemos. Tornando verdade o que ele disse sobre idéias:

"Qualquer idéia que te agrade

Por isso mesmo... é tua.

O autor nada mais fez que vestir a verdade

Que dentro em ti se achava inteiramente nua...".


O melhor que temos a fazer é ouvir o convite à viagem, ao mundo da poesia, feita por esse grande homem que nos deixou em viagem a poucos anos.





Invitation au Voyage:
"Se cada um de vós, vós outros da televisão
Vós que viajais inertes
Como defuntos num caixão
Se cada um de vós abrisse um livro de poemas...
Faria uma verdadeira viagem...
Num livro de poemas se descobre de tudo, de tudo
[mesmo!

inclusive o amor e outras novidades."

Rua dos cataventos XVII:
Quando eu morrer e no frescor de lua
Da casa nova me quedar a sós,
Deixai-me em paz na minha quieta rua...
Nada mais quero com nenhum de vós!
Quero ficar com alguns poemas tortos
que andei tentando endireitar em vão...
que lindo a eternidade, amigos mortos,
para as torturas lentas da Expressão!...
Eu levarei comigo as madrugadas,
Pôr de sóis, algum lugar, asas em bando,
mais o rir das primeiras namoradas...
E um dia a morte há de fitar com espanto
Os fios de vida que eu urdi, cantando,
Na orla negra de seu manto...

Da felicidade:
Quantas vezes agente em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura,
Tendo-os na ponta do nariz!"

sábado, 20 de maio de 2006

SAIA NA CHUVA


Nunca fuja da chuva

Deixe que ela toque tua face,

te abrace.

Ela é o ato desesperado de quem ama e tem saudade.

Evapora e transforma-se.

Para assim tocar-te,

beijar-te

por toda parte

que se ande.

Até que a saudade passe.

quinta-feira, 20 de abril de 2006

Duplo Sentido


Sentido _________________Duplo

Forçou ---------------------- a amizade

Quebrou -------------------- a cara

Fugiu------------------------ da raia

Correu ---------------------- pro abraço

Tropeçou ------------------- nas palavras

Caiu ------------------------ em contradição

Torceu --------------------- o nariz

Feriu ----------------------- os sentimentos

Curou ----------------------- a ressaca

Andou ----------------------- meio desligado

Pintou ----------------------- sujeira

Comprou -------------------- briga

Enrolou --------------------- o assunto

Puxou ----------------------- conversa

Viajou ----------------------- na maionese

Encontrou ------------------- sarna pra se coçar

Forçou ---------------------- a barra

Abriu ----------------------- o jogo

Entrou ---------------------- no esquema

Roubou ---------------------- um beijo

Viajou ----------------------- na batatinha

Correu ----------------------- perigo

Bailou ------------------------ na curva

Bateu ------------------------ em retirada

Queimou -------------------- o filme

Correu ----------------------- contra o tempo

Encontrou -------------------- Jesus

Assaltou ---------------------- a geladeira

Chutou ----------------------- o balde

Furou ------------------------ o sinal

Matou ------------------------ a charada

Enterrou ---------------------- o assunto

Sujou! ------------------------- as calças

Apareceu ---------------------- a Aparecida

Os cana. ----------------------- de açúcar

Fez, --------------------------- a caveira

Pagou. ------------------------- o pato

...

Forçou ------------------------ a amizade

Quebrou ---------------------- a cara

Fugiu... ----------------------- do raciocínio.