segunda-feira, 30 de outubro de 2006

A morte e a morte de Quincas Berro D'água

Em um velório aparecem três bêbados... Pronto. É material perfeito para uma piada! Ou para um livro. É o que Jorge amado faz em “A morte e a morte de Quincas Berro d’água”. Nesse livro encontramos o personagem mais “vivo” (em termos) e malandro possível. Conta a história que Quincas era um pai de família respeitado com um trabalho estável e... em outras palavras: a vida era um saco. Decidiu há algum tempo largar tudo e todos que estavam atravancando seu caminho e virar passarinho, aliás, passarinho não, que passarinho não bebe alguns tipos de água, não é mesmo? Um dia bateu as botas, duas vezes! A primeira de uma forma tranqüila em seu quarto, a segunda afogado no mar, após ter saído de seu caixão e, surpreendentemente, passeado com os companheiros de cachaça pelas ruas de Salvador. De qualquer forma foi uma grande perda para nós. Aliás, o que seria de nós sem esses poetas, cantores e palhaços em transe? Com certeza o mundo perderia parte de seu brilho, se bem que também perderia parte do cheiro, mas deixa isso pra lá. Ei, já te contei aquela do bêbado e a freira?...





"Negro Pastinha virava um trago, enxugava uma lagrima, urrava em desespero: - morreu o pai da gente.../ - ...pai da gente...- gemiam os outros. Circulava a garrafa consoladora, cresciam lágrimas nos olhos do negro, crescia seu agudo sofrer: - Morreu o homem bom.../ - ...homem bom.../ De quando em quando, um novo elemento incorporava-se à roda, por vezes sem saber do que se tratava. Negro Pastinha estendia-lhe a garrafa, soltava seu grito de apunhalado: - Ele era bom.../ - ...era bom... – repetiam os demais, menos o novato, á espera de uma explicação para os tristes lamentos e a cachaça grátis. – Fala também, desgraçado...- Negro Pastinha, sem se levantar, espichava o poderoso braço, sacudia o recém-chegado, um brilho nos olhos. – Ou tu acha que ele era ruim? Alguém se apressava a explicar, antes que as coisas se tornassem malparadas. – Foi Quincas Berro Dágua que morreu. – Quincas?...era bom..._dizia o novo membro do coro, convicto e aterrorizado. – Outra garrafa! – reclamava, entre soluços, Negro Pastinha."

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